Por que a maioria dos coaches têm dificuldade de entrar no mercado de trabalho, viver da profissão e ser respeitado e reconhecido?
Valdemir Gabriel & Damaris Pádua
A cada dia aumenta o número de escolas de formação de Coaches no Brasil e no Mundo. Sabemos que isso é uma tendência mundial, devido aos resultados extraordinários já comprovados por todas as áreas que buscaram apoio nessa metodologia, onde os processos foram aplicados por profissionais competentes. O problema é que em um mundo onde se depende totalmente de uma moeda corrente para sobreviver, toda vez que se encontra um serviço ou produto que tem grande demanda, a sua exploração começa se tornar impulsiva e pouco se olha para a essência real que fez aquele produto ou serviço nascer.
No caso do Coaching não está sendo diferente. Todos os dias se encontra alguém dizendo: sou Coach. Como se formar um profissional de Coaching fosse o mesmo que fazer um treinamento de fim de semana aprendendo como ensacar líquido, transformá-lo em gelo e sair vendendo por aí. Isso vem deixando alguns profissionais da área, e também pessoas que dedicaram a maior parte de suas vidas em formações de anos para servir as pessoas, com a “pulga atrás da orelha”, pois eles sabem a grande responsabilidade que é trabalhar com a parte interna das pessoas a partir de seu mundo simbólico e a necessidade de se ter uma visão sistêmica (interna e externa) antes de se proporem a atendê-las no intuito de desenvolvê-las a partir de suas verdades (crenças e valores).
Portanto, nessa oportunidade de compartilhar com vocês, leitores, algumas linhas, com trocas de conhecimentos, descrevemos o que em nossa visão, de forma sistêmica, precisa-se para se tornar um profissional de Coaching respeitado e reconhecido, entendendo que podemos ajudar muitos colegas que escolheram o Coaching como profissão e fazem parte dos 80% dos profissionais que se formam em Coaching e perdem a oportunidade de atuar profissionalmente em uma das áreas mais promissoras do século, devido às pequenas, mas graves falhas para quem quer ser um Coach de verdade.
Após termos sido procurados por vários Coaches já formados, porém, inseguros em atuar na profissão, iniciamos uma pesquisa do porquê a maioria dos Coaches que se forma, não consegue atuar na área e viver dessa profissão. Percebemos que eles saem de suas formações com pouco conhecimento para atuar de imediato. A partir dessa necessidade, montamos um projeto nessa direção e criamos uma formação de apoio para os Coaches entrarem no mercado com segurança. Após atender mais de 100 profissionais aplicando Coaching na Prática e apoiá- los a entrarem de verdade na profissão identificada (Coaching), percebemos que mais de 90 % das deficiências dos Coaches está na insegurança de não saber o que realmente é ouvir na essência e nem identificar qual a melhor postura para adotar frente aos primeiros encontros com o Coachee (Cliente), pois poucos sabem a real diferença de ouvir e escutar sem criar imagens internas e poucos têm conhecimentos que lhe forneçam segurança para enfrentar esse mercado tão promissor.
Observa-se que o ser humano tem muita necessidade de falar de si e é carente de ser ouvido em sua essência e percebe-se que sempre que o outro vai falar se quer falar além ou aquém dele, ou uma história maior e melhor. Na arte de exercitar o Coaching, se faz necessário o Coach valorizar a fala do Coachee (Cliente) e compreendê- lo, ver realmente vendo e ouvi-lo na essência de forma a esquecer de sua própria história de vida para viver a do outro.
Sabemos que, primeiramente, o Coachee (cliente) precisa se sentir seguro para que se consiga obter os resultados desejados durante o processo, e para que isso aconteça o Coach tem que transmitir confiança e muita segurança. Confiança e segurança só podem ser transmitidas se delas você fizer posse. O que mais vemos são Coaches querendo transmitir segurança, mas dela também sentem falta. Portanto, é de extrema importância o Coach resolver todos os seus conflitos internos e buscar muito conhecimento para adquirir segurança interna e externa frente à profissão escolhida.
Para escolher o profissional em Coaching, o cliente percebe a importância de analisar o profissional que vai lhe prestar o serviço, como qualquer outro prestador de serviço. Quem é? Sua trajetória, referências… E é aí que a maioria dos Coaches falha, pois poucos se preparam para esse primeiro contato, seja ele via telefone, e-mail ou pessoalmente. O que seria se preparar?
Falha número 1: Chegar falando como se tivesse a obrigação de ter todas as respostas. Temos que lembrar que o Coach é um profissional totalmente diferente do profissional de Marketing, que pergunta antes e na hora apresenta o produto, “já o Coach pergunta o tempo todo”. Falha número 2: Esquecer, na maioria das vezes, de perguntar o que o cliente já conhece sobre o assunto e ir dizendo o que é Coaching, “pois de pedaço em pedaço se come um boi por inteiro, por que comer um boi de uma só vez pode matar”.
Falha número 3: Ao invés de deixar o cliente dizer como e onde acredita que o Coaching pode ajudá-lo em suas necessidades, já vai dizendo como. Quem sabe se o ouvisse primeiro, nesse momento, já conseguisse identificar as reais necessidades do cliente, que para ele talvez ainda sejam latentes. Além do que, esse é um bom momento para saber as suas reais expectativas com o resultado do processo. É preciso lembrar que o papel principal do Coach é perguntar.
Falha número 4: Têm medo de passar o valor justo e ser rejeitado e, com isso, jogam o valor lá embaixo. Sabemos que para ser feito um trabalho de qualidade de forma a alcançar satisfação total do cliente, é importante ter o tempo mínimo necessário. Você até pode fazer um valor abaixo da realidade do mercado para ajudar seu cliente, porém, tem que primeiro passar o valor real do processo, pois sabemos que o encontro de uma ou duas horas são apenas parte de um tempo que demanda muitos outros de preparo e acompanhamento. E você pode até não perceber, mas o cliente sente que seu trabalho poderá ser realizado com qualidade dentro do valor proposto, pois ao passar do tempo, ele automaticamente irá valorizar sua hora e perceberá a impossibilidade de se empenhar dentro do valor proposto anterior.
Falha número 5: O Coach, muitas vezes, costuma dar direção para o Coachee como se já soubesse o que é melhor para ele e se esquece de que nunca se pode dar direção na vida dos outros quando atuando com o processo de Coaching. É o Coachee (Cliente) que tem a total responsabilidade sobre a trajetória a seguir até o destino desejado. O papel do Coach é fazer o Coachee refletir que há possibilidades de novas oportunidades, ampliando sua visão, que podem levá-lo ao mesmo destino, cortando atalhos para diminuir a distância com a possibilidade de chegar mais rápido ao seu destino (estado desejado).
Por isso, a importância do profissional de Coaching em desenvolver a si mesmo, conhecendo profundamente suas crenças, valores, qualidades e pontos a melhorar, suas deficiências e dificuldades, descobrir o seu verdadeiro EU. Quem é, e qual a sua missão? Pois esse é um grande diferencial, por que se percebe nos atendimentos (sessão de Coaching) que a maioria dos Coaches tem dificuldade em saber se o que está sendo dito pelo Coachee é sobre a vida dele (Coachee) ou é sobre a vida do Coach, pois as histórias de vida costumam ser tão próximas por também termos tido infância, crescermos e passarmos por algumas dificuldades idênticas; e quando o Coach está sem consciência disso e têm muitas coisas mal resolvidas em seu interior, pode acontecer de começar a dar respostas para seu cliente, mesmo que sejam em perguntas indutivas, buscando, muitas vezes, respostas para ele mesmo.
Isso acontece também em outras profissões onde pessoas buscam formações naquelas áreas devido às necessidades de encontrar respostas para sua própria vida, citamos a mais comum que é no curso de Psicologia, porém, há muitas outras. Porém, na Psicologia que foi citada como exemplo, a formação é de no mínimo cinco anos e tem que se passar por várias avaliações e estágios de meses e até anos, e mesmo que a pessoa tenha buscado essa formação na área como autoajuda terá de ter muito empenho para concluir o curso e poder atuar na profissão.
Por isso, a importância dos Coaches se conhecerem verdadeiramente, e terem a certeza de que estão na profissão certa, e as terem como “Missão de Vida” para somente depois, poderem atuar como condutores em processo de Coaching de forma a poderem apoiar, verdadeiramente, os seus clientes em suas necessidades e em seu desenvolvimento pessoal e profissional.
Saber ouvir na essência é, acima de tudo, fundamental, pois se observa que a grande maioria das pessoas ainda deixa a desejar em ouvir o outro. É preciso praticar muito e exercitar segundo a segundo a arte de ouvir. É inevitável não nos vermos na história do outro, e isso nos impulsiona a começar a ter respostas ou até a criar perguntas para responder a nós mesmos respostas que há tempos procuramos.
Observa-se que essa é a principal falha das pessoas e também dos Coaches: formar perguntas por algo que se pensa ter ouvido de seu Coachee e na realidade ouviu a si mesmo. O pior é ouvir alguém dizendo em um treinamento que ouviu totalmente na essência e quando pedimos para ela ir ao quadro negro e desenhar o que a pessoa disse com forma, tamanho e cores, e pedirmos para a pessoa que narrou fazer o mesmo, ela começa a entender que ouvir na essência não é apenas entender as palavras ditas e sim saber perguntar para a pessoa que cor tinha seu arco-íris, que tamanho, forma, etc. Pois costumamos dar cor, formas e tamanho às coisas a partir de nosso mundo simbólico e esquecemos que cada um tem o seu mapa.
Portanto, quer ser um ouvinte de verdade e escutar na essência? Se sim, a partir de hoje seja um aluno de primeiro dia de aula que acredita que o outro pode e deve ser o mestre de suas próprias palavras, permitindo assim que ele possa colocar cores, tamanhos e formatos durante sua fala.
Cada vez mais estão surgindo ferramentas que os próprios profissionais de Coaching vão descobrindo que podem apoiar e trazer melhores resultados para o processo. É muito importante saber explorar essas ferramentas, extraindo o máximo delas, por que por mais simples que sejam, irão fazer o Coachee refletir. Portanto, o verdadeiro Coach tem de respirar Coaching, ter o Coaching como uma filosofia de vida tornando-o consciente inconsciente, e assim o processo flui com naturalidade, sem forçar situações e imposição de ideias do Coach para o Coachee, e ao sentir que isto está acontecendo, saber que está longe de ser um processo de Coaching.
O resultado é outro fator chave e, para isso, avaliar e reavaliar se a forma de condução do processo está suprindo a expectativa do Coachee é muito importante.
Um bom Coach precisa buscar desenvolvimento constantemente, porém, não é necessário ser especialista na área que o Coachee atua, pois o processo tem como objetivo o Coachee e é ele o principal res353 ponsável para o processo acontecer e o papel do Coach é conduzir as técnicas e saber utilizar as ferramentas durante o processo, porque na sessão é o Coachee que vai mostrar o caminho que deve e precisa seguir para alcançar o objetivo (estado desejado).
O processo de Coaching depende de muita criatividade, alta percepção e visão sistêmica. Criatividade, porque para ouvir e ver na essência é preciso estar com a mente limpa e só assim abrirá espaço para a mesma. Alta percepção é a sabedoria de usar todos os meios de comunicação e perceber e sentir o que não está sendo dito pelo Coachee. Visão sistêmica é enxergar o todo para apoiar o Coachee com perguntas que o faça caminhar rumo ao seu objetivo. Além de ouvir, também é Ver realmente Vendo na essência, aquilo que o Coachee não consegue ver, porém sem direcionar ou impor o que o Coachee deve fazer.
Nós Coaches temos momentos que nos sentimos mágicos por conseguirmos resultados extraordinários e termos visões periféricas, pois um profissional de Coaching consegue ir além do que o Coachee possa imaginar, porém é preciso muita paciência para não atropelar o tempo do Coachee, pois se observa que cada ser humano tem um tempo para seu desenvolvimento, uns mais rápidos e outros menos, porém, de uma forma ou de outra, sendo bem apoiado ele encontra a direção e ao final todos chegam ao destino (estado desejado).
Os Coaches precisam ter consciência de que as ferramentas de reflexão e desenvolvimento que envolvem a metodologia do Coaching são muito importantes no processo, porém, elas representam no máximo 10% do resultado final, pois só haverá sucesso nas aplicações das ferramentas se houver a identificação correta de qual utilizar e a forma certa de aplicação naquela fase ou momento. Por nossas experiências em várias áreas de atuação como Coaches, estudos e pesquisas na prática em processos de Coaching, podemos afirmar com segurança que 90% do sucesso final no processo de Coaching está na habilidade dos Coaches em saber fazer “Perguntas Poderosas”, “Ver realmente Vendo” e “saber Ouvir na Essência”.
Portanto, se quer ser um Coach de verdade, que consiga fazer com que seu Coachee alcance os resultados esperados, cabe a você estudar muito, pesquisar sempre sobre o assunto, se autodesenvolver, quebrar seus próprios paradigmas, rever suas crenças e valores, descobrir sua missão de vida e ter certeza de que está na profissão certa. E depois disso, ter a humildade de sentar frente a frente com seu Coachee, com a certeza de que não sabe nada sobre a vida dele, e de que quem tem de saber de tudo é ele mesmo, pois Coach não é Mentor, mas tem de saber muito sobre ouvir na essência, ver além da visão tradicional e saber fazer perguntas em qualquer ocasião.
Excelente texto! Todo coach ou quem quer ser coach deveria ler algo assim e não se enganar sobre a profissão.
Que trabalho maravilhoso vocês fazem! Parabéns!